Mesmo com todo o avanço obtido nos itens descritos abaixo, nenhuma mudança substancial foi realizada no formato dos anéis corneanos nos últimos 10 anos. Neste cenário é que surgiu o Cornealring. Utilizando a grande quantidade de conhecimento já acumulada sobre estes implantes, foi criada uma nova proposta de design de anel, com o objetivo de melhorar, adequar e corrigir algumas falhas que, com o tempo, foram se mostrando evidentes nos modelos antigos. Não se trata assim, da criação de um produto totalmente novo, mas apenas da evolução destas ferramentas que vêm se solidificando como opção no tratamento do ceratocone.
Nos seus primórdios, dentre as técnicas cirúrgicas refrativas, incluíam-se a remoção ou a adição de tecido corneano. Com o auxílio de um microcerátomo e técnicas de congelamento, uma fina lamela estromal era removida da córnea do paciente deixando-a mais plana ("keratomileusis"), o que corrigia sua miopia. Por outro lado, para aumentar a curvatura da córnea nos olhos hipermétropes, uma l amela estromal obtida de um olho doador era implantada em meio à córnea receptora ("keratophakia"). No entanto, este tipo de cirurgia não perdurou muitos anos, pois o equipamento era complexo, as técnicas operatórias difíceis e, o mais decepcionante, os resultados completamente variáveis. Iniciou assim na cirurgia refrativa, uma corrida em busca do desenvolvimento de técnicas menos traumáticas, as quais induziriam menores cicatrizes e teriam maior previsibilidade.Retorne ao topo
A utilização de implantes sintéticos intracorneanos para a correção de erros refrativos foi inicialmente idealizada por Barraquer em 1949, que introduziu o termo Ceratoplastia Refrativa, ou seja, uma cirurgia plástica na córnea com finalidade refrativa (Barraquer JI. Queratoplastia refractiva. Este Inf Oftal 1949;2:10-30). No entanto, os primeiros resultados obtidos não foram animadores, devido a problemas de biocompatibilidade, insuficiência de permeabilidade aos nutrientes e ao oxigênio, alterações no estado de hidratação da córnea, etc. Como estas lentes incluíam a manipulação cirúrgica do centro da córnea, existia o risco de formação de cicatrizes com redução da transparência da porção óptica do olho. Nos anos subseqüentes, várias pesquisas foram feitas na tentativa de se encontrar algum material que fosse biocompatível, permeável e apresentasse boa qualidade óptica e alto índice de refração (Barraquer JI. Modification of refraction by means of intracorneal inclusions. Int Ophthalmol Clin 1966;6:53-78. McCarey BE, Andrews DM. Refractive keratoplasty with intrastromal hydrogel lenticular implants. Invest Ophthalmol Vis Sci 1981;21:107-15. Choyce DP. The correction of refractive errors with polysulfone corneal inlays. A new frontier to be explored? Trans Ophthalmol Soc U K 1985;104:332-42). Para evitar a manipulação da região do eixo visual, evitando a perda de sua transparência, surgiram diversas tentativas de alterar a curvatura da córnea manipulando-se apenas sua porção periférica. Blavatskaia, D. E. D., realizou experimentos com anéis produzidos com córneas humanas, os quais eram enxertados no estroma receptor a fim de corrigir sua miopia. Desenvolveu também uma tabela (nomograma) para a escolha adequada da espessura do anel que deveria ser utilizado. Este nomograma correlacionava a espessura do anel com o montante de miopia que se desejava corrigir. (Blavatskaia, D. E. D., "the use of intralamellar homoplasty in order to reduce refraction of the eye" Uberstzt. Aus. Oftalmol. Zh. (1966) 7:530-537 which was apparently translated to Arch. Soc. Ophthmol. Optom. (1988) 6:31-325).Retorne ao topo
Alvin E. Reynolds desenvolveu um "Intrastromal Corneal Ring" (ICR) (pat. Nos EUA no. 579480 ano1987; no. 4766895 ano 1988). Em 1991, as primeiras experimentações clínicas em humanos começaram no Brasil, inicialmente em olhos cegos, com um anel (ICR) inteiro de 360° de comprimento de arco. Este implante sofreu modificações, especialmente ao ser dividido em duas partes, dois segmentos com 150° de arco cada ("Intrastromal Corneal Ring Segments - ICRS"). Em 1999, o nome do ICRS foi alterado para INTACS. Novas mudanças em sua morfologia passaram a ser estudadas em 2006, com o lançamento de um modelo de secção transversal elíptica.Retorne ao topo
No Brasil, Cunha, Paulo Ferrara de Almeida, iniciou estudos, em animais, com anéis de PMMA de diâmetro reduzido, com o objetivo de utilizá-los na correção da alta miopia. Após implantes em olhos cegos, em 1991, realizou o primeiro implante de anel com finalidade refrativa. Nesta época, o anel era inteiro com 360 de comprimento de arco, tendo sido posicionado abaixo de um flap produzido por um microcerátomo (como no LASIK). Em 1995, foi implantado o primeiro anel em paciente após transplante de córnea e ceratotomia radial. A partir de 1996, iniciou o uso destes anéis em pacientes com ceratocone, intolerantes a lentes de contato e com indicação para transplante de córnea.Retorne ao topo
Fleming publicou em 1989, seu trabalho com um anel maleável o qual, após ser inserido na córnea, pode ser comprimido ou dilatado, tornando um determinado meridiano mais curvo ou mais plano. (Fleming JF, Wan WL, Schanzlin DJ.. The theory of corneal curvature change with the Intrastromal Corneal Ring. CLAO J. 1989 Apr-Jun;15(2):146-50).Retorne ao topo
Siepser, Steven B. (Pat. Nos EUA no. 4976719 ano 1990) descreve um outro tipo de anel que reduz ou aumenta a curvatura da córnea usando um único fio cirúrgico que cria um círculo onde as forças são seletivamente ajustadas. Para realizar essa mudança de modo controlado, desenvolveu um tensor que foi unido ao fio. Gabriel Simon (pat nos EUA no. 5090955 ano 1992 e no. 5372580 ano 2001) descreve uma técnica cirúrgica que permite a modificação da curvatura corneal pela injeção interlamelar de um gel sintético na periferia cornea, poupando a zona óptica. (Simon, Gabriel et al., "Gel Injection Adjustable Keratoplasty," Graefe's Arch Clin Exp Opthalmol (1991) 229:418-424, pp. 418-424). Silvestrini, Thomas et al. (pat. nos EUA no. 5466260 ano 1995) descreve um anel corneano intra-estromal ajustável (ICR) mas indica que a essência da invenção se encontra na descoberta de que o anel deve ser ajustado na sua espessura, não sendo necessário produzir anéis de tamanhos diferentes. A escolha do anel deve ser feita previamente à cirurgia e ele é defensor da conduta: "o dispositivo não deve ser mais reajustado após a inserção".Joseph Y. Lee (pat. Nos EUA no. 5876439 ano 1999) descreve um anel injetável, composto de um material semelhante a silicone ou polímero de uretano. Após a sua injeção, se necessário, a curvatura da córnea é então ajustada seletivamente removendo parte do líquido injetado e, assim, diminuindo o volume do implante de forma discreta e controlada. Como se pode observar, a idéia de se introduzir um dispositivo entre as lamelas estromais não é nova e diversos materiais foram e continuam sendo testados. Milhares de anéis de diversos formatos já foram implantados em todo o mundo. Os modelos que mais se difundiram por terem obtido melhor desempenho e reprodutibilidade, foram aqueles produzidos de material acrílico rígido (PMMA), com secção transversal triangular ou hexagonal, tendo diversos tamanhos e espessuras.Este tipo de cirurgia vem se difundindo com grande velocidade em diversas regiões do mundo, graças à satisfação de médicos e pacientes quanto aos resultados alcançados. Este bom desempenho é fruto, em parte, dos avanços obtidos em sua indicação, técnica de implantação, instrumental, etc. As principais mudanças ocorridas foram: Na Indicação: essa cirurgia era considerada REFRATIVA e agora é prescrita especialmente para o tratamento de córneas enfermas, como no ceratocone. O objetivo, que era a redução da miopia, agora é principalmente fornecer uma melhor acuidade visual corrigida e conter/retardar o avanço da ectasia. Na técnica cirúrgica: Os anéis, que eram implantados através de incisões em bolsa ou abaixo de flaps, podem agora ser introduzidos por meios menos traumáticos. Existem atualmente duas maneiras de se proceder essa cirurgia: Técnica manual, através da confecção de um túnel com uma espátula curva adequada; Técnica com fentosecond-laser, o qual cria os túneis para a implantação. No instrumental cirúrgico: praticamente todas as peças do set de instrumentais cirúrgicos foram alteradas e outras foram acrescidas para tornar mais fácil, seguro, preciso e reprodutível o desempenho do cirurgião.Retorne ao topo